Interior

Neno da Laje estaria por trás da exclusão de 16 professores do Fundef em São José da Laje

Professores de São José da Laje denunciam perseguição política no não pagamento dos precatórios do Fundef.

Atualizado 5 dias atrás
Neno da Laje durante evento em São José da Laje - @BR104
Neno da Laje durante evento em São José da Laje - @BR104

A denúncia feita por um grupo de 16 professores da rede municipal de São José da Laje, no interior de Alagoas, expõe não apenas um possível desrespeito a decisões judiciais, mas revela uma engrenagem política que parece mover a gestão pública local com mão de ferro há quase duas décadas.

O caso envolve diretamente a prefeita Angela Vanessa e, nos bastidores, o ex-prefeito Paulo Roberto Pereira de Araújo, o “Neno da Laje”, figura central da política local e apontado como mentor da retaliação contra os educadores.

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Segundo apuração do BR104, a exclusão desses professores do pagamento dos precatórios do Fundef, mesmo com decisões favoráveis da Justiça Federal, não se deu por razões técnicas ou legais, mas sim por vingança política.

Os educadores, que integraram uma comissão atuante por mais de dez anos na luta pelo pagamento dos 60% dos recursos do Fundef devidos aos profissionais da educação, teriam desagradado o grupo político ao pressionar publicamente pela efetivação do ree. Quando a Justiça finalmente autorizou a liberação, o pagamento a esses professores foi simplesmente negado.

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Um velho roteiro de poder

A política de São José da Laje gira, há mais de 20 anos, em torno da figura de Neno da Laje. Primeiro como prefeito, depois como articulador da eleição do filho, e agora como principal conselheiro da atual gestora e sua esposa, Angela Vanessa. Fontes ouvidas pela reportagem relatam que é ele quem “bate o martelo” nas decisões estratégicas da istração municipal — e, ao que tudo indica, também nas vinganças.

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O estilo centralizador e autoritário de Neno já é conhecido nos corredores do poder local. Em gestões anteriores, adversários políticos, servidores críticos e até vereadores que ousaram contrariá-lo publicamente foram afastados, ignorados ou descredibilizados. A retaliação contra os professores parece seguir esse mesmo padrão.

De acordo com os relatos, mais de 300 professores da rede municipal receberam os valores proporcionais aos 35% do Fundef reados pela prefeitura. No entanto, 16 foram deixados de fora, todos vinculados direta ou indiretamente à comissão que liderou os protestos e ações judiciais. “É um recado claro: quem levanta a voz, não recebe. É uma punição disfarçada de critério técnico”, resume uma das educadoras afetadas.

A Câmara de Vereadores, por sua vez, aprovou um projeto de lei que alterou o percentual dos rees, reduzindo o valor a ser pago aos professores — mesmo após alertas dos próprios educadores sobre a possível ilegalidade da medida. A sessão foi marcada por promessas de análise cuidadosa e comprometimento com a legalidade, mas no dia seguinte, a proposta foi aprovada sem resistência. Nenhum vereador, segundo os professores, prestou solidariedade ao grupo após a exclusão.

Silêncio como estratégia

Além da exclusão, o que mais revolta os professores é a ausência total de transparência. “Não há uma justificativa formal, nenhum documento, nenhuma nota técnica. Somos servidores públicos, temos direito a respostas. Mas aqui, o poder cala, ignora e espera que a indignação se dissolva com o tempo”, disse uma das educadoras em entrevista ao BR104.

O grupo afirma que já acionou o Ministério Público, as varas federais e o Fórum de São José da Laje. Mas, enquanto o processo segue seu curso, a sensação é de impotência diante de um sistema político que opera acima da lei.