O julgamento de Bolsonaro e de outros sete réus acusados de envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado entra em uma fase decisiva a partir desta segunda-feira (9). O processo tramita na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e, segundo fontes do próprio tribunal, deve ser julgado até setembro de 2025, antes do início do calendário eleitoral de 2026.
A nova previsão surpreende até as defesas dos investigados, que antes acreditavam que o processo se arrastaria até o próximo ano. Com o ritmo imposto pelo relator Alexandre de Moraes e a sinalização do STF de que não aceitará medidas protelatórias, a expectativa agora é que a sentença seja proferida ainda neste segundo semestre.
Réus já se preparam para condenações
Os réus do núcleo mais próximo ao ex-presidente Jair Bolsonaro, como os generais Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, além de Anderson Torres, Alexandre Ramagem, Almir Garnier Santos, Mauro Cid e o próprio Bolsonaro, já se articulam com suas defesas diante da possibilidade de uma condenação por crimes como:
Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Tentativa de golpe de Estado;
- Organização criminosa armada;
- Dano qualificado;
- Deterioração de patrimônio público tombado.
A maior parte dos depoimentos deve ocorrer presencialmente no STF, com exceção do general Braga Netto, que está preso preventivamente e será ouvido por videoconferência. Todos os interrogatórios serão transmitidos ao vivo pela TV Justiça e também por canais partidários, como a TvPT.

Jair Bolsonaro ao lado do ministro Alexandre de Moraes no STF – @Reprodução
Com a fase de depoimentos, o julgamento de Bolsonaro avança para a reta final. Após os interrogatórios, o processo seguirá para alegações finais da Procuradoria-Geral da República (PGR), do colaborador Mauro Cid, e, por fim, das defesas dos acusados. Em seguida, o relator apresentará seu relatório e voto, sendo seguido pelos ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Luiz Fux e Cármen Lúcia.
O STF já demonstrou em outras ações, como a que levou à condenação do ex-presidente Fernando Collor, que não aceitará estratégias consideradas dilatórias. Assim, há grande expectativa de que não haverá novos adiamentos e o caso seja julgado até setembro.
Condenação de Bolsonaro pode inviabilizar 2026
Embora o ex-presidente Jair Bolsonaro já esteja inelegível por decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), uma eventual condenação penal com pena superior a 8 anos poderá levá-lo à prisão. Segundo especialistas, ainda que a sentença preveja pena em regime fechado, há a possibilidade de que, por questões de saúde e idade, Bolsonaro cumpra pena domiciliar — como aconteceu com Collor.
O impacto político da sentença é inevitável. A direita já discute alternativas para a disputa de 2026, com nomes como Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ratinho Jr. (PSD), Michelle Bolsonaro (PL) e Eduardo Leite (PSD) ganhando força.
Segundo levantamento da Quaest, todos esses nomes já empatam com Lula em simulações de segundo turno. Uma condenação de Bolsonaro neste ano pode forçar a oposição a consolidar uma nova liderança para tentar unir o campo bolsonarista.
Defesa tenta criar narrativa de vítima
Durante os interrogatórios, a defesa de Bolsonaro tem adotado uma linha que combina silêncio com tentativa de vitimização política. Nos bastidores, assessores do ex-presidente avaliam que ele tentará reforçar o discurso de que está sendo perseguido pelo Judiciário.
No entanto, a consistência das provas colhidas pela Polícia Federal e as colaborações premiadas, como a de Mauro Cid, indicam que o STF terá elementos robustos para basear sua decisão. Cid foi o primeiro a depor nesta segunda (9), e revelou novos detalhes sobre as reuniões no Palácio do Alvorada para discutir o golpe, inclusive mencionando a participação direta de Bolsonaro.
Tarcísio depõe e tenta se descolar
Um dos depoimentos mais aguardados foi o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aliado de Bolsonaro. Ele afirmou ao STF que não teve conhecimento de qualquer tentativa de ruptura democrática e que suas visitas a Bolsonaro após a eleição de 2022 se limitaram a temas istrativos.
Analistas veem o gesto como uma tentativa de Tarcísio preservar seu capital político junto à base bolsonarista, mas sem se comprometer com uma possível condenação. “Ele busca manter-se como opção para 2026, sem herdar o desgaste do julgamento de Bolsonaro”, aponta o cientista político Rafael Cortez.
PT e oposição acompanham de perto
O Partido dos Trabalhadores (PT) anunciou que transmitirá os depoimentos pela TvPT, reforçando o tom político do julgamento. Para parlamentares da base governista, o julgamento representa um marco institucional. A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) disse que a condenação de Bolsonaro será um sinal para o mundo de que a democracia brasileira resistiu.
“O Brasil tem a mania de esquecer o que é grave. Não podemos esquecer o que houve no 8 de janeiro nem o papel do ex-presidente. Que a Justiça cumpra seu papel”, declarou.
STF mira equilíbrio entre justiça e estabilidade política
Ministros do Supremo têm se mostrado conscientes do impacto político do processo. Segundo fontes da Corte, há receio de que o julgamento de Bolsonaro acirre ainda mais a polarização política, especialmente às vésperas do novo ciclo eleitoral. Por isso, há esforço para concluir o processo até setembro, evitando que o tema contamine o debate das urnas.
Internamente, o tribunal avalia que o caso está “maduro” para ser julgado e que a opinião pública também exige uma resposta institucional firme contra a tentativa de ruptura democrática.
Julgamento de Bolsonaro moldará futuro político do país
O julgamento de Bolsonaro no STF é mais do que um capítulo judicial: é um marco que testará os limites da institucionalidade no Brasil. O desfecho, seja pela condenação ou absolvição, terá implicações diretas na organização da direita para 2026 e na narrativa política dos próximos anos.